Freakonomics, a entrevista

Psicologia explica o sobe e desce no mundo dos negócios

Em entrevista, autor diz que modelos econômicos tidos como regra são menos poderosos que a psicologia para entender o movimento das bolsas.
Um dos autores do best-seller “Freakonomics”, palavra que mistura “freak” (esquisito, esdrúxulo) com “economic” (relativo à economia), o jornalista Stephen Dubner é polêmico e inovador.
Conversar com Dubner e manter o diálogo na linha planejada é tarefa das mais complicadas, mesmo numa entrevista breve. Em poucas respostas, ele é capaz de arrancar risadas de todos os que o ouvem e age de maneira tão espontânea que o assunto logo deriva de mercado de ações para o drinque que ele tomou durante o almoço. Esse mesmo tom acessível e bem-humorado foi um dos motivos pelos quais Dubner e seu parceiro no livro, o economista Steven Levitt, conseguiram vender 2 milhões de exemplares de Freakonomics, só no Estados Unidos. O estilo informal não impede a dupla de fazer críticas sérias à maneira como os economistas mais conservadores excluem o fator humano de suas análises. De passagem por São Paulo, Dubner afirmou em entrevista que a racionalidade – uma das premissas da economia clássica – nem sempre é o padrão no comportamento humano e explicou por que acredita que a observação do comportamento de massa às vezes pode ser mais útil para explicar o movimento das bolsas do que os tratados de finanças.

Desde o seu lançamento, em 2005, Freakonomics foi alvo de muita discussão e tornou-se best seller em diversos países, inclusive no Brasil. O livro produziu algum impacto na maneira como hoje pensamos a economia?

Provavelmente não. A maior parte das pessoas continua a ver a economia como prescrição do futuro e, nesse sentido, nosso trabalho é menos ambicioso. No livro, nós tentamos explicar o passado a partir da análise de dados. É algo mais simples e talvez mais eficiente do que tentar adivinhar o futuro com base em experiências anteriores.

Um dos aspectos mais marcantes em “Freakonomics” é a tentativa de mostrar como a irracionalidade interfere na economia. De que maneira os governos e as empresas podem levar o comportamento irracional em conta ao fazer suas análises?

Muitos de nós agimos de maneira mais irracional do que gostaríamos de acreditar. Os especialistas hoje observam aspectos complexos da economia, fazem modelos matemáticos, mas quase sempre acabam ignorando aquilo que não pode ser medido, justamente por não ser possível quantificar esses fatores. Acontece que eles também interferem na maneira como nos comportamos. Veja o exemplo das emoções: não se costuma discutir a felicidade ou a raiva dos indivíduos como um fator decisivo da realidade. Um ganhador de um Prêmio Nobel de economia provavelmente acharia sem sentido o fato de um economista começar a estudar, por exemplo, o efeito do número de divórcios no Texas sobre a maneira como as mulheres daquele estado agem, mas isso pode fazer mais diferença para entender aquela realidade do que alguma equação aplicada a todos os lugares. Hoje, já se vê pesquisadores atrás de avaliar a felicidade de uma determinada população e esse é um passo positivo. Em cinco anos, é provável que estejamos medindo a felicidade como se ela fosse uma ação ou um bem palpável.

Onde é possível identificar sinais dessa irracionalidade no cenário atual?

Um bom exemplo é o mercado de ações nos Estados Unidos. É uma área onde frequentemente incorporamos sentimentos relativos, de comparação com os demais, e na qual muitas vezes desafia-se a lógica, em termos absolutos. Um investidor que observa suas ações se valorizarem 2%, quando a bolsa subiu 4%, pode sentir-se um fracassado e retirar seus investimentos de onde aplicou, apesar de ter ganhado dinheiro. Quando esse comportamento se multiplica para um grande número de investidores, acabamos chegando a situações pouco previsíveis e é isso que se vê no mercado financeiro. Em situações de massa, quando há muitos pessoas interessadas numa mesma coisa, a psicologia pode ser mais poderosa do que uma aposta em modelos econômicos tidos como regra.

Essa irracionalidade explica o que se viu na crise das hipotecas nos Estados Unidos?

Não. Nesse caso, a única irracionalidade é que as pessoas tenham ficado tão surpresas com a crise. Todos os atores agiram de maneira racional, desde os tomadores de empréstimo, que aproveitaram o crédito fácil para conseguir os financiamentos que desejavam, até as empresas que emprestavam dinheiro a quem não possuía bom histórico de pagamento e, com isso, esperavam lucrar. Só que essa aposta evidentemente era muito arriscada. Havia boas chances de que o resultado a longo prazo fosse a incapacidade de manter esse ritmo e foi o que aconteceu.

Vocês afirmam em Freakonomics que o comportamento das pessoas e da própria economia baseiam-se em boa medida nos incentivos positivos ou negativos para agir daquela maneira. As empresas têm conseguido aplicar bem esses incentivos em busca de produtividade?

As companhias, em sua maioria, não são muito boas com incentivos. Em geral, imagina-se que o incentivo econômico é o mais eficiente, mas às vezes há motivações não-financeiras que explicam por que as pessoas produzem mais ou menos. Não se pode imaginar que o estímulo que funciona numa situação vá funcionar em todas. Elas precisam experimentar formas diferentes de interagir.

Existe, então, uma maneira de criar melhores incentivos à produtividade e à criatividade?

As empresas ainda são muito fracas em experimentação. Elas podiam, por exemplo, esquecer um pouco os “brainstormings” e as grandes reuniões em busca de um consenso. Gasta-se horas fazendo brotar dez ideias para depois eliminar nove delas e apostar em apenas uma. Por que não deixar que os autores dessas dez ideias desenvolvam separadamente e em escala menor seus projetos, para então optar por aquele que melhor funciona? Pode parecer sem sentido, mas no Google a rotina deles funciona um pouco assim, cada funcionário usa boa parte de seu tempo nos projetos dos quais mais gosta e eles conseguem bons resultados dessa maneira.

Seu parceiro no livro, Steven Levitt, e você estão preparando um novo livro. Sobre o que será?

O estilo será o mesmo. Vamos continuar analisando pequenos problemas em busca de soluções. Olhamos para as grandes questões econômicas mundiais e pensamos que, se já há gente muito mais esperta tentando resolvê-las, podemos contribuir procurando respostas rigorosas para as pequenas. Dessa vez, porém, temos um material muito interessante sobre prostituição e a maneira como ela funciona. Também vamos abordar a ideia do talento, para questionar o senso comum de que nascemos com a predisposição para fazer algo. Qualquer aspecto que se relacione à maneira como as pessoas podem ganhar a vida é um bom campo de estudo para o “Freakonomics”.

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